sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

TV para bebês?


Marcos Ozorio
Polêmica provocada pelo lançamento de um canal de TV voltado especificamente para crianças com menos de três anos de idade, em 2009, por si só já é bastante proveitosa. Deixando de lado os possíveis prós e contras, a polêmica em si promove a discussão e a reflexão acerca de uma questão mais central e urgente: a qualidade dos produtos veiculados pela televisão, sejam aqueles produzidos especialmente para o público infantil, sejam os produzidos para as demais faixas etárias, mas igualmente consumidos pelas crianças.
É crescente, nos últimos tempos, uma relativa banalização de temáticas como a violência nos telejornais ou ainda a naturalização de conteúdos vulgares como a “pornografia” ensejada por alguns grupos musicais de qualidade duvidosa, que acabam promovendo uma erotização precoce da infância, sem esquecer do estímulo ao consumismo desenfreado presente nas campanhas publicitárias e no merchandising embutido nas novelas; todos amplamente divulgados pela grande mídia, incluindo, obviamente, a televisão. Problematizar estas questões junto a professores e pais é, no mínimo, responsável.
Creio que não se trata de satanizar ou santificar um canal de TV voltado para crianças muito pequenas, mas antes de trazer algumas discussões à baila, a saber: a qualidade e a natureza dos conteúdos exibidos e o tempo de exposição das crianças frente à telinha. A conjugação destes dois ingredientes pode ser decisiva para uma avaliação mais precisa do quanto a TV para bebês pode melhorar ou piorar suas vidas, ou seja, não se pode deixar de reconhecer que o contato , a relação que as crianças pequenas podem estabelecer com o mundo real é absolutamente valiosa e fundamental para o seu desenvolvimento, e que substituir isto pela experiência com a televisão pode comprometer, e muito, o desenvolvimento infantil. Entretanto, se não houver uma substituição de uma coisa pela outra, se a criança brincar de verdade, correr de verdade, conversar de verdade, tocar em pessoas de verdade e também assistir televisão por um número controlado de horas, exposta a conteúdos significativos para seu desenvolvimento afetivo, cognitivo e emocional, arrisco dizer que ninguém sairá perdendo.

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