Marcos Ozorio
Durante a recente reunião do G-20, em Londres, o ex-diretor do Fórum Econômico Mundial para assuntos asiáticos, o alemão Frank-Jürgen Richter, um fiel defensor do argumento de que os países emergentes mudarão o equilíbrio geopolítico mundial, em entrevista ao jornal Globo (05/04/2009) afirmou, entre outras coisas, que o Brasil tem muito a fazer em termos de economia do conhecimento, no investimento na qualificação da mão de obra, o que poderá ajudar bastante a presença brasileira no comércio mundial. Richter finaliza a entrevista ao correspondente do Globo, Fernando Duarte, dizendo que tudo isso “vai depender muito da vontade do país”.
As afirmações de Richter no que diz respeito à importância de o Brasil investir na produção do conhecimento e na qualificação da mão de obra são, sob certo aspecto, incontestes, contudo devemos ter cuidado com determinadas armadilhas que um raciocínio mais raso pode induzir: os processos que permitem o alcance de tais metas são, indiscutivelmente, educacionais e, portanto, de médio e longo prazo. Neste sentido, o primeiro cuidado que devemos tomar é o de não esperarmos resultados verdadeiros em curto prazo. Digo verdadeiros porque, obtidos de forma açodada, os resultados provavelmente não serão muito confiáveis e nem tampouco alcançarão seus objetivos maiores e mais nobres: a verdadeira constituição de conhecimentos e valores por parte dos alunos brasileiros.
Um segundo cuidado deve ser o de diferenciar a escola do ambiente corporativo, por uma - senão por mais - simples razão: a escola lida com uma prioridade constitucional. A infância e a adolescência são prioridades manifestas em nossa Carta Magna. Ora, uma prioridade não pode ter um tratamento de mercado, não pode estar se desenvolvendo em um ambiente criado para adultos e o mundo corporativo é, definitivamente, um mundo de adultos e para adultos. A escola prescinde de executivos, sua gestão carece de profissionais afetados pela infância, pelo valor do conhecimento, os resultados esperados não devem estar ligados à lógica do mercado, do lucro, mas antes, à lógica do conhecimento, das linguagens.
As melhores escolas do país, aquelas que apresentam os melhores resultados em exames nacionais e vestibulares locais, seguramente, não são vitimadas por descontinuidades políticas - um dos piores flagelos da política nacional -nem por projetos-relâmpagos. Não são grandes corporações, não há sequer uma rede de ensino privada ocupando os principais lugares nos diferentes rankings existentes no país, pelo contrário, as escolas que, por exemplo, ocupam as melhores classificações do ENEM, não pertencem a redes de ensino e estão em busca de uma identidade própria que nem é a das corporações, mas também não é a da empresa de fundo de quintal. Elas também são aquelas onde se busca um caráter mais permanente do projeto político pedagógico, menos dado aos modismos, por vezes até tradicionais demais, todavia muito distante dos simples projetos que prometem êxito em exames.
Um terceiro cuidado diz respeito à experiência prévia. A escola não foi inventada anteontem. O volume de produção teórica e prática acerca do tema não pode ser negligenciado em prol de uma “cartilha” que o G7 apresenta ao “G13” sob o pretexto e argumento de que seremos nós, os ditos emergentes, que iremos alterar o equilíbrio geopolítico mundial.
Países considerados “emergentes” como o Brasil poderão alterar o equilíbrio geopolítico mundial, de verdade, caso os investimentos na área da produção do conhecimento e na qualificação da mão de obra - aqui compreendidos como investimentos em educação - estiverem voltados para o bem estar de toda a sociedade e não exclusivamente para o mercado; sejam compreendidos como investimentos e não como gastos ou despesas; desenvolvam um planejamento sério e viável das metas de médio e longo prazo e, sobretudo, não confiem em testes e provas como instrumentos redentores de todo um processo repleto de obstáculos e condições muito adversas, mas antes enquanto um diagnóstico, necessário, é verdade, mas tão somente um diagnóstico, daqueles que precede o tratamento médico.
Já temos variados diagnósticos, resta-nos adotar um “tratamento”. Penso que deveria ser o de maior qualidade. Mas como afirmou Richter, tudo vai depender da “vontade do país”. E qual é a vontade que o país reserva para a educação?
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