sábado, 20 de março de 2010

Algumas citações sobre Infância e Televisão: reflexões que se entrelaçam com poesia










fotografia de arquivo pessoal


“Muito escutei na infância:”Criança não pensa.”
Criança pensa. Mas faz também algo mais importante,
que amadurecendo desaprendemos: ela é. Contemplando
uma mancha na parede, um inseto no capim ou
a revelação de uma rosa, ela não está apenas olhando.
Está sendo tudo isso em que se concentra. Ela é o besouro,
a figura na parede, ela é a flor,o vento e o silêncio..”

(fragmento extraído do livro Perdas e Ganhos, de Lya Luft., 2004, p.23-24) __________________________________________________________
“Caracterizar as crianças como audiências significa
assumi-las por sua vez como consumidores e como cidadãos.
(...) Aos criadores de televisão, fazemos um chamado a pensar
uma televisão para crianças que não as infantilize, mas que as assuma
como sujeitos e cidadãos em construção,dotados de uma especial
sensibilidade em relação ao jogo das imagens e dos sons”

(fragmento extraído do livro Dos meios às mediações, cultura e hegemonia, de Jesus Martín-Barbero, 2004, p.405-406)
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O menino que carregava água na peneira
“Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
Era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito
Porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto no final da frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens
E algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos."

(Poema extraído do livro Exercícios de ser criança de Manoel de Barros, 1999)

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