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sábado, 1 de maio de 2010

Por que nossos jovens votam mas não elegem?


Marcos Ozorio

Outro dia, em uma reunião de professores, brotou uma questão que me parece, na melhor das hipóteses, preocupante: nossos jovens com idade entre 16 e 18 anos, num ano eleitoral, não estão mobilizados, ao menos, para tirar o título de eleitor, cuja data limite expira agora em maio e, muito menos para as eleições majoritárias que ocorrerão em outubro próximo.
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmam a preocupação discutida na dita reunião de professores: de 2006 para cá, o número de jovens que tiraram o título diminuiu cerca de 45%. Estes mesmos dados do TSE revelam outra questão, que não será discutida aqui, mas que também merece reflexão mais apurada: os jovens que manifestaram interesse em votar nas próximas eleições, segundo a referida pesquisa do TSE, são em sua maioria, aqueles que buscam a continuidade de programas de governo, a partir dos quais são beneficiados, como o Bolsa Família ou o ProUni. Preocupante também, mas isso é tema para outro post.
Por outro lado, a décima edição do reality show Big Brother Brasil, mobilizou um potencial de votação que superou, inclusive, os limites internacionais que o programa já havia atingido. Nunca na história do BBB a votação de ¨paredões¨ foi tão expressiva, em todo o planeta. Isso não deixa de ser um fenômeno extraordinário.
Quem, efetivamente, ¨vota¨ no BBB?
Parte daqueles que o assistem, provavelmente.
Muitos dos meus alunos – desde os abastados da classe A até os menos favorecidos das classes C e D- torciam e votavam, em sua maioria, no participante que, ao final do BBB 10, ganhou o prêmio maior.
Segundo o próprio apresentador do programa, o jornalista Pedro Bial, o Big Brother seria um raro caso de programa de TV que consegue fidelidade de adolescentes.
Como compreender um apático político que existe dentro de um hiperativo midiático, que tem preguiça de entrar na fila da zona eleitoral e, ao mesmo tempo, dedica tardes inteiras na frente de um monitor, manuseando, avidamente, um teclado e um mouse. Tudo por um sujeito que ninguém conhece bem ganhar um milhão e meio de reais. Como compreender?
Talvez no binômio imediatismo/interatividade encontremos um caminho: o público adolescente que votou em Dourado, não o elegeu para nada, mas sim “DECIDIU” RAPIDAMENTE o que queria que acontecesse com ele e com os outros participantes do programa. Como em um videogame em terceira pessoa no qual o jogador, identificado com determinado personagem, supera etapas passando de uma fase para outra o mais rápido possível, determinando quem merece continuar brincando ou não. Nas eleições de outubro, nossos adolescentes sabem que não irão decidir nada, pois não compreendem e nem se interessam em processos de médio e longo prazo.
Os reality show, o Orkut, o Facebook, o Twitter, o MSN, as máquinas fotográficas digitais, os celulares e o Ipod configuram um novo universo na construção da subjetividade dos adolescentes e jovens dos anos 2000: um universo fragmentado, pouco sequencial, hipertextual, multitarefa, imediato, instantâneo, efêmero, descartável.
A equação é complexa: como vamos assegurar uma civilidade mínima às futuras gerações, baseada no princípio democrático se não houver eleitores de verdade, mas apenas votantes?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Porque a maçã continua mordida?

Marcos Ozorio

Ultimamente, venho refletindo muito acerca do futuro próximo da juventude que inaugura este século XXI. Aqueles que terão entre 20 e 25 anos em 2020. Ou dos mesmos em 2030 e até mesmo em 2040, quando já estarão perto dos cinqüenta e, portanto, o futuro deles já estará, no mínimo, pela metade.

Acredito que minha inquietação comece em casa, observando minha filha, mas em seguida, se derrama dentro das salas de aula onde me encontro com meus alunos, tanto os ricos quanto os pobres, todos enquadrados na situação descrita no parágrafo acima, ou seja, aqueles que hoje estão com dez ou quinze anos.

Trata-se de uma tendência entre os adolescentes "orkutianos" que apresenta uma exigência: ser "up to date" todo o tempo. Um exemplo: as 86 fotografias tiradas na festa de ontem (note-se que estou falando de uma quantidade reduzida para os padrões vigentes nos álbuns de fotografias abrigados em sites de relacionamento) por uma única máquina fotográfica digital devem ter seu "up load" finalizado ainda ontem.. Por que isso acontece? Por que o atual é apenas o agora? Por que tudo que eu fiz hoje precisa ser apresentado hoje ainda? Que forma de vida instantânea e efêmera é essa que comparece entre adolescentes e jovens neste início de milênio? Alguns apresentarão um responsável: o hedonismo do consumo que nos leva a querer parecer estar sempre bem etc e tal. Ou ainda outros responsáveis. Todos prováveis. Contudo, minha inquietação é outra. Creio que a escassez de alguns hábitos na vida moderna é a principal vilã desta situação. O abandono do ato contemplativo, por exemplo.

Correria, zapping, escrita abreviada, videoclipe. O vertiginoso ignora a contemplação. Sem contemplação a superficialidade se instala. O livro, o poema, a música, o cálculo matemático, a obra prima, as flores, o voo dos pássaros, todos precisam ser contemplados. Contemplando, identificamos, conhecemos, reconhecemos e até compreendemos aquilo que o olhar rápido subtrai.

Mas como promover a contemplação em tempos vertiginosos?
[Do latim contemplare.]

1. Olhar, observar atentamente, considerar com admiração.
2. Ver ou admirar com o pensamento.

Anagrama: proclamar (do francês)

Penso que o sentido que venho chamando de permanência nos indique alguma possibilidade, algum caminho.

O IPod, ícone da juventude globalizada plugada, é atualizado em espaços de tempos extraordinariamente curtos. Entre 2005 e 2009 mais de cinco modelos diferentes do referido armazenador e tocador de música foram colocados no mercado mundial. Todos muito variados: Shuffle, Nano, Touch, Newnano, Phone etc.

Entretanto, a logomarca da Apple sofreu apenas pequenas alterações, nada que descaracterizasse a idéia inicial É a respeito deste sentido de permanência que devemos problematizar com os jovens. A permanência é a garantia, é a segurança, é o inconfundível. É fácil que as discussões sobre o sentido de permanência desemboquem em outros tantos sentidos, tais como: conservadorismo, tradicionalismo; mas o azul do ORKUT continua o mesmo desde que ele foi colocado “no ar”, apesar das incontáveis atualizações que a maioria de seus usuários promovem minuto após minuto.

Talvez a identidade se forje mesmo na permanência. O ORKUT deve saber isso. Nossos jovens não. Mas se eles contemplassem... quem sabe? Ou ainda, como o anagrama sugere, se proclamassem...

Mas isso é só um início de conversa. Aguardo os comentários e volto com a segunda parte do Por que a maçã continua mordida?