Marcos Ozorio
Ultimamente, venho refletindo muito acerca do futuro próximo da juventude que inaugura este século XXI. Aqueles que terão entre 20 e 25 anos em 2020. Ou dos mesmos em 2030 e até mesmo em 2040, quando já estarão perto dos cinqüenta e, portanto, o futuro deles já estará, no mínimo, pela metade.
Acredito que minha inquietação comece em casa, observando minha filha, mas em seguida, se derrama dentro das salas de aula onde me encontro com meus alunos, tanto os ricos quanto os pobres, todos enquadrados na situação descrita no parágrafo acima, ou seja, aqueles que hoje estão com dez ou quinze anos.
Trata-se de uma tendência entre os adolescentes "orkutianos" que apresenta uma exigência: ser "up to date" todo o tempo. Um exemplo: as 86 fotografias tiradas na festa de ontem (note-se que estou falando de uma quantidade reduzida para os padrões vigentes nos álbuns de fotografias abrigados em sites de relacionamento) por uma única máquina fotográfica digital devem ter seu "up load" finalizado ainda ontem.. Por que isso acontece? Por que o atual é apenas o agora? Por que tudo que eu fiz hoje precisa ser apresentado hoje ainda? Que forma de vida instantânea e efêmera é essa que comparece entre adolescentes e jovens neste início de milênio? Alguns apresentarão um responsável: o hedonismo do consumo que nos leva a querer parecer estar sempre bem etc e tal. Ou ainda outros responsáveis. Todos prováveis. Contudo, minha inquietação é outra. Creio que a escassez de alguns hábitos na vida moderna é a principal vilã desta situação. O abandono do ato contemplativo, por exemplo.
Correria, zapping, escrita abreviada, videoclipe. O vertiginoso ignora a contemplação. Sem contemplação a superficialidade se instala. O livro, o poema, a música, o cálculo matemático, a obra prima, as flores, o voo dos pássaros, todos precisam ser contemplados. Contemplando, identificamos, conhecemos, reconhecemos e até compreendemos aquilo que o olhar rápido subtrai.
Mas como promover a contemplação em tempos vertiginosos?
[Do latim contemplare.]
1. Olhar, observar atentamente, considerar com admiração.
2. Ver ou admirar com o pensamento.
Anagrama: proclamar (do francês)
Penso que o sentido que venho chamando de permanência nos indique alguma possibilidade, algum caminho.
O IPod, ícone da juventude globalizada plugada, é atualizado em espaços de tempos extraordinariamente curtos. Entre 2005 e 2009 mais de cinco modelos diferentes do referido armazenador e tocador de música foram colocados no mercado mundial. Todos muito variados: Shuffle, Nano, Touch, Newnano, Phone etc.
Entretanto, a logomarca da Apple sofreu apenas pequenas alterações, nada que descaracterizasse a idéia inicial É a respeito deste sentido de permanência que devemos problematizar com os jovens. A permanência é a garantia, é a segurança, é o inconfundível. É fácil que as discussões sobre o sentido de permanência desemboquem em outros tantos sentidos, tais como: conservadorismo, tradicionalismo; mas o azul do ORKUT continua o mesmo desde que ele foi colocado “no ar”, apesar das incontáveis atualizações que a maioria de seus usuários promovem minuto após minuto.
Talvez a identidade se forje mesmo na permanência. O ORKUT deve saber isso. Nossos jovens não. Mas se eles contemplassem... quem sabe? Ou ainda, como o anagrama sugere, se proclamassem...
Mas isso é só um início de conversa. Aguardo os comentários e volto com a segunda parte do Por que a maçã continua mordida?
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