Regina de Assis
O Carnaval carioca e o de outros estados brasileiros são pródigos em apresentar imagens audio-visuais e impressas cheias de sensacionalismo e apelo fácil à atenção do público. As linguagens de mídia exprimem, com eloquência, aspectos da cultura do Carnaval, que têm várias conotações humorísticas, estéticas, históricas, de crítica social e política, mas o apelo à sensualidade está sempre explícito, pois é parte integrante da natureza da festa, desde suas longínquas origens.
Há muitos anos criaram- se as divisões mirins dentro das grandes escolas de samba, onde crianças e adolescentes se divertem dançando, cantando e narrando algum enredo, abrindo assim uma possibilidade de - respeitando-se a dignidade e o direito de imagem - criar um espaço próprio para que participem da grande festa, sem os excessos com os quais indulgem as manifestações sensuais dos adultos.
Há alguns anos uma pré-adolescente de 12 anos fez história ao se tornar Rainha de Bateria de uma grande escola do Rio e, agora, uma criança de 7 anos, filha do presidente de outra escola importante, defilou à frente da bateria. Este cargo é sempre disputado por artistas, modelos e mulheres que se notabilizam pelo culto ao corpo e à sensualidade.
O debate instaurado antes do desfile sobre se a menina deveria ou não desfilar ampliou-se com o posicionamento - através de manifestações e ações públicas - de diferentes órgãos da Justiça responsáveis pelos direitos de crianças e adolescentes.
Quando uma decisão desta ordem sai do âmbito familiar e entra no da Justiça, pergunta-se qual a responsabilidade de pais que não percebem limites para a exposição e muitas vezes exploração da imagem de seus filhos, ainda crianças. Este afrouxamento de princípios e valores que sempre buscaram a preservação da vida e da segurança de meninos, meninas e adolescentes vai minando e solapando as estruturas da sociedade, que, ao não respeitar seus direitos, os distorce.
Em momentos como este é que vale refletir sobre as responsabilidades compartilhadas entre pais, responsáveis, órgãos públicos e os profissionais da imagem e do som, que também tem filhos, sobrinhos, netos e que, não só por sua sensibilidade, mas por sua responsabilidade profissional tem deveres para com crianças e adolescentes.
No entanto, volta a questão dos direitos e deveres de pais e responsáveis que veem nos filhos, muito mais uma fonte de renda, do que pessoas em desenvolvimento e ainda incapazes de julgamentos isentos sobre suas atitudes e iniciativas.
Não só no Carnaval, mas durante todo o ano , os desfiles e concursos de beleza infantil, os meninos e meninas “propaganda”, os atores e atrizes mirins são explorados a um preço tão caro, que às vezes não há retorno para seu envolvimento posterior com o mundo das drogas, da bebida, da prostituição e da infelicidade pessoal.
E a mídia, o que fará ?
Honrar e respeitar a imagem de crianças e adolescentes, além de ser um preceito legal, pode ser um bom começo.
Mas abrir debates públicos pelo rádio, pela TV, pela internet, por jornais e revistas também é outro caminho que pode começar a coibir a ambição e a irresponsabilidade desmesurada de pais e familiares, em relação a seus filhos ainda crianças e adolescentes.
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