Maria Inês Delorme
Não é novidade para ninguém que o uso de animais, idosos e crianças em propagandas servem como elementos potencializadores de sucesso em vendas. Neste sentido, chama atenção a campanha publicitária de Natal de uma operadora de TV a cabo, que vem sendo veiculada em vários canais. A passagem do ano constitui, para todos, um momento de alegria, mas as festas de reveillon se restringem às classes sociais mais favorecidas. Até porque existe um consenso de que seja o Natal a festa de todas as crianças e que envolve a figura de Papai Noel, de presentes e de muitos sonhos.
Voltando a propaganda de televisão, nela está indicado o endereço eletrônico da felicidade e da alegria vendidas pela operadora em questão. Os votos de felicidades vão sendo expressos por crianças que interagem, como se fosse um situação comum no mundo infantil elas brincarem e se divertirem com os brinquedos ali apresentados, tais como controles remotos, teclados de computadores, monitores, laptops, telefones sem fio etc.
Tudo começa com uma suposta guerra de almofadas que, em segundos e gradativamente, vai sendo substituída pelos objetos já citados. Alguém conhece adultos que permitiriam uma brincadeira assim? Pode se.
É difícil entender o que se pretende ao usar imagens de crianças equivalendo a um mercado consumidor e usuário habitual daquelas tecnicalidades, já que quem estuda ou convive com elas não identifica aquele modo de brincar a qualquer outra brincadeira tipicamente infantil, muito menos com crianças daquela faixa etária (cinco anos).
Mais uma vez, crianças foram usadas para que certas ordenações do mundo adulto se façam cumprir, no caso, o cumprimento desejável na passagem do ano com votos de felicidades; ao mesmo tempo, estas mesmas crianças foram responsabilizadas por convidar o público adulto, que tem poder de decisão e de compra, para se tornar assinante daquela operadora de televisão a cabo.
O que há de preocupante nisto, além do que já foi dito, se refere ao fato de a maioria dos espectadores desconhecer as leis de proteção à infância, os direitos das crianças brasileiras e os deveres dos adultos em relação a elas. E mais, é possível que também os responsáveis pelas crianças, todas bonitas e saudáveis, não tenham lembrado do seu dever de garantir aos seus filhos o direito a uma infância saudável em que qualquer proposta de inserção precoce no mercado de trabalho deva ser rejeitada até que tenham pelo menos 16 anos, com preconiza a Organização Mundial do Trabalho.
E para concluir fica posta a questão: porque insistimos em expor crianças na televisão em propagandas comerciais destinadas aos adultos?
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