segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Palavra escrita - mudanças e permanências

Marcos Ozório

Em recente materia do suplemento Megazine do jornal O Globo (19/05/2009), a produção textual escrita da juventude deste final de primeira década do século XXI, foi colocada em xeque. Textos condensados, ultra sintéticos, abreviados, “econômicos” são questionados e seus suportes são, de certa forma, responsabilizados pelo fracasso da produção textual de jovens em exames como os vestibulares, ENEM e similares. Sem pretender satanizar ou santificar o MSN ou até mesmo o mais jovem e vertiginoso parente das novas ferramentas de comunicação – o Twitter – volto com uma reflexão que pode contribuir, ao menos, para que não nos desesperemos com a ideia de que a palavra escrita está morrendo: por que os sites de relacionamento não podem prescindir da palavra escrita?

Mesmo podendo estabelecer conversas com imagem e som (bastando uma webcam, microfones e caixas de som) ainda assim, o diálogo escrito é líder de audiência em sites de relacionamento. Creio que isso se deva a uma virtude ímpar da aliança entre a palavra escrita e a internet (e o MSN explora muito bem tal virtude): a capacidade de estabelecer conversas quase simultâneas. Isso é impossível por meio da voz. Falar com vários interlocutores ao mesmo tempo gera muita confusão (e incompreensão) Já no Messenger você conversa, ao mesmo tempo, com vários interlocutores.Você se torna um verdadeiro administrador de conversas. Isso é extraordinário: estabelecer diferentes diálogos, simultâneos, sem misturá-los, sem confusão.

Digo tudo isso para reafirmar que as novas tecnologias não eliminam códigos anteriores, mas antes, os reposicionam. A palavra reposicionada na internet é abreviada, sintética, quase consonantal, mas continua sendo a palavra escrita, baseada num código alfabético, linear, seqüencial, analógico. A geração web 2.0 parece desconhecer a idade desta senhora, mãe e avó da geração analógica e a trata como uma “bff” (best friend forever), explorando suas inúmeras possibilidades, criando novas abreviaturas, alguns neologismos, pouca rigidez gramatical e sintática além das heresias ortográficas que cometem.

Sem ter consciência de que a palavra regula e organiza o pensamento, esta nova geração usa e abusa da palavra escrita para enviar mensagens instantâneas, intensificando práticas dialógicas, restaurando o saudável hábito da troca de correspondências e contrariando uma previsão feita no início deste século de que a internet e os computadores suprimiriam a escrita ou estariam “atropelando-a”.

Enquanto não inventarem nada melhor para colocar no lugar, a palavra escrita, soberanamente, continuará comandando a comunicação interpessoal à distância. Resta-nos investigar com profundidade o que realmente muda e o que realmente permanece nesta relação entre a internet e a palavra escrita. Trata-se de um campo de pesquisa grande, pouco explorado e promissor.

2 comentários:

  1. Marcos, gostei do seu artigo, que me deu muito a pensar. Uma questão: a teclada rápida, a rasteira sintática e outras jogadas espertas, próprias dessa linguagem feita num tempo de urgência, podem ser vistas como
    como uma saúde da linguagem, mas não sei se como sinais de saúde da língua escrita. Também não sou de satanizar as novas tecnologias, mas vezes há em que recebo mensagens que preciso decifrar, forma e conteúdo. Penso ainda que a nova literatura tem vindo empobrecida para não assustar os possíveis novos leitores.O que vocâ acha?
    Estou aqui na jogada esperta, na teclada rápida, e nem sei se estou falando a partir de uma reflexão rasa e me expressando de modo claro.

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  2. Welington,
    Que bom que o texto te provocou.
    O que eu acho saudável é esta espécie de reestabelecimento da palavra escrita entre os adolescentes e jovens, aliás de uma escrita com sentido e significado, pois promove comunicação e organização de ideias.
    Do jeito que eu estou vendo as coisas acontecerem no ambiente escolar, sem nenhuma valorização do código linguístico, penso que a internet, por vezes, assume o lugar da escola, pois obriga o sujeito a escrever e, só isso já é bem mais do que a escola vem fazendo.
    Um grande abraço e vamos trocando nossas impressoes acerca destas novas questões que se colocam.

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